terça-feira, 7 de abril de 2009

Vai passar a procissão

A Semana Santa em Sevilha é vivida com empenhamento mesmo de quem não é religioso. As pessoas vestem-se e enchem as ruas: de manhã vão de templo em templo visitar os andores que vão sair à tarde. Consultam o guia com os horários de saída das procissões e os itinerários, porque nem todos estão dispostos a sentar-se ao longo da Avenida de la Constitución para a parte final dos percursos que se dirigem todos para a Catedral.

nazarenos
Os andores (pasos) são impressionantes de peso e de riqueza. São, na minha opinião, medonhos no seu expressionismo maneirista, mas reconheço a tradição que vem de antes do cristianismo: na antiga Roma este tipo de homenagem aos deuses era quase diária, e nos grandes Jogos Romanos, que tinham lugar em Setembro e celebravam Júpiter o Melhor e o Maior, desfilavam os cônsules, os pretores, os outros magistrados, os senadores, os sacerdotes do deus, o andor com a estátua do deus apropriadamente decorada, outros deuses subsidiários, bailarinos e músicos, e toda esta gente com grinaldas de flores nos cabelos descia o Capitólio, seguia através do Forum e ao longo da Via Sacra, entre magotes de gente e casas com colchas penduradas nas janelas, até ao Circo Máximo, onde as festas prosseguiam com corridas de cavalos, e nos diversos teatros de madeira havia espectáculos de ópera, exibições atléticas, leituras, palestras... Além dos Jogos Romanos havia os Jogos Plebeus (em Novembro), os Jogos Apolíneos (em Julho), os Saturnais, os Lupercais, os Cereais, os Florais, e por aí fora, tantos que um visitante grego uma vez se interrogou em voz alta, Quando é que esta gente trabalha?

andor: borriquita
Mas os Romanos não prescindiam destas festas. Como os Sevilhanos, viviam na rua, comiam uma espécie de tapas nas tabernas e bebiam, senão tinto de verano, vinho diluído em água.

(Sevilla, Abril 2009)

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