quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A educação segundo a OCDE Parte II

Passando os olhos pelo tipo de perguntas usadas nos exames do PISA, verifico que se dirigem à compreensão e ao raciocínio e não, por exemplo, à memória, num contraste evidente com o que era o ensino de há algumas décadas.

Por um lado isso é muito bom: como declara o próprio PISA (PISA 2009 Results, Vol I, pg 5), pretende-se avaliar a capacidade de o sistema de ensino preparar os alunos para a vida - quer dizer, para a sociedade e economia globais. Precisamos de pessoas inteligentes, ou seja, capazes de resolver problemas, porque os conhecimentos memorizados não chegam se não forem adequadamente relacionados.

Assim o entendeu a Coreia do Sul, que apesar dos bons resultados no PISA 2000, considerou que as capacidades dos estudantes precisavam de ser melhoradas para enfrentar as novas exigências de um mercado de trabalho internacionalmente competitivo.
Uma perspectiva foi mudar o foco do currículo coreano de arte e linguagem de preocupação em gramática e literatura para áreas e estratégias necessárias para a compreensão e a representação criativas, segundo as linhas em que se baseia o PISA
. (PISA 2009 Results, Vol V, pg 33)

Tenho contudo algum medo de que se esteja a ir de um extremo a outro. Não podemos abandonar completamente o armazenamento de conhecimentos, confiando em S. Google para os encontrar quando precisamos deles: é que muitas vezes se não os tivermos em armazém não saberemos sequer que existem para os procurarmos.

Por isso me atrapalha que as pessoas não saibam quem foi Picasso, ou Beethoven, os reis de Portugal ou o primeiro presidente dos Estados Unidos, que nunca tenham sabido de cor um soneto de Camões nem o significado de meia dúzia de datas.

Cada volume deste relatório tem mais de 200 páginas, mas quem se interessa por educação bem pode dar-lhes uma vista de olhos.

4 comentários:

Luísa A. disse...

Gi, por razões várias, trabalhei com esses relatórios durante um tempo e sei bem do que fala. Também concordo inteiramente com o que diz a propósito do papel da memória. É que, na verdade, a inteligência, sendo, sobretudo, a capacidade de mobilizar e relacionar informações, tem como primeiro alicerce a memória. Mesmo que se não decore tudo porque decorar está «démodé», que se decore alguma coisa, pelo exercício cerebral que memorizar representa e pelo edifício de referências que constrói. Aliás, as pessoas mais inteligentes que conheço – ou, pelo menos, com mais brilho intelectual – são pessoas com memórias prodigiosas, que não esquecem nada, um nome, um livro, uma frase… Ah, como eu as detesto! ;-)))))

Gi disse...

Luísa, LOL. Eu admiro sem reservas essas pessoas.

Anónimo disse...

Praising Google almighty parece ser um lema cada vez mais comum. Mas mesmo para pesquisar na net os conhecimentos de base sao fundamentais. Concordo com a sua tese.

Gi disse...

Camalees, fico contente, e obrigada pela visita, volte sempre.